Hoje eu gostaria de falar um pouco sobre algumas características linguísticas do português brasileiro (PT-BR), do japonês (JP-JP) e do inglês (EN-US primariamente, mas também se aplica aos demais ENs).

Começarei falando sobre o que acho legal/maneiro sobre o português brasileiro:

Sei que é meio subjetivo, mas gosto da sonoridade do português brasileiro, especialmente do português das regiões mais urbanas do estado de São Paulo. Sim, sei que sou meio suspeito para falar disso, já que eu sou do estado de São Paulo, mas essa é a minha opinião sincera.

Também gosto bastante da diversidade fonética do PT-BR. Quando comecei a aprender japonês, por volta de 2018, fiquei surpreso com o fato de que todos os fonemas do japonês existem no português. Isso significa que para um brasileiro, a pronúncia do japonês não contém nenhum som que ele já não conheça pelo português. Isso, além disso, já me dá o gancho para falar de algo que não gosto do inglês e do japonês: Eles têm uma diversidade fonética baixa, então um falante de inglês ou de japonês tem dificuldade de aprender outros idiomas.

Além disso, o português tem uma grafia que não é muito difícil, já que a maior parte das palavras se escreve de forma similar à sua pronúncia (acho que todos os estudandes no começo do ensino fundamental agradeceriam a isso se eles soubessem como isso ajuda eles nas aulas de português). Sobre isso, no inglês temos o problema do “ough”, no qual as palavras “plough”, “thought”, “though”, e “through” têm, no total, 4 pronúncias distintas para o conjunto de letras “ough” (e esses são apenas os que eu lembro). “Mas e no japonês?”, você deve estar se perguntando, e eu irei responder: No japonês é pior ainda, porque no japonês existem TRÊS, sim, TRÊS sistemas de escrita diferentes (sem contar a romanização, que é quando o idioma japonês é escrito em caracteres romanos). O primeiro deles é o Hiragana, que é um silabário (letras que simbolizam sílabas) utilizado para palavras japonesas, para Furigana (já explico), e para auxiliar na conjugação de verbos. O segundo é o Katakana, que serve para onomatopeias, e para palavras estrangeiras emprestadas ao idioma japonês. Já o terceiro, os Kanji, são o principal problema. Os Kanji são caracteres emprestados do idioma chinês, e são utilizados para nomes japoneses e palavras japonesas em geral. O problema dos Kanji é que existem UM MONTE deles. Milhares, mais especificamente. Óbvio, se você for aprender japonês, você não precisa saber todos eles, apenas alguns milhares já está bom, e eles são compostos por partes menores (chamadas “radicais”), então eles não são só rabiscos aleatórios. Outro problema dos Kanji é que, diferentemente do idioma chinês (mandarim), cada Kanji pode ter mais de uma pronúncia diferente, dependendo da palavra onde ele é utilizado. Então, é um inferno aprender a ler japonês. A notícia boa é que existe o Furigana, que é um sistema no qual a pessoa que escreve um texto em japonês (um mangá, por exemplo) coloca a leitura das palavras mais difíceis em cima dessas palavras, então você lê a palavra em Kanji, e em cima dela pode ter a leitura dela escrita em Hiragana. Falando disso, ouvi que a presença de Furigana no texto é uma das coisas que define o gênero Shonen (literatura para garotos jovens), nos mangás.

Agora que eu já escrevi um mega parágrafo sobre grafia, irei escrever sobre o que não gosto no idioma português, começando pela conjugação de verbos:

No português nós temos um monte de tipos de conjugação para verbos, mas como eu saí do ensino médio a mais de 3 anos, não irei citá-los aqui. Se fosse só uma conjugação para todos os sujeitos, seria melhor, mas no português, nós temos “casos”. Casos são quando o sujeito influencia na conjugação do verbo, então, o verbo “ficar” pode ser “fico” para a primeira pessoa do singular, “fica” para a segunda e a terceira pessoas do singular, “ficamos” para a primeira pessoa do plural, e “ficam” para a segunda e a terceira pessoa do plural. Isso é um inferno. Se você fala “eu fico feliz com isso”, o “eu” já diz que você está na primeira pessoa do singular, você não deveria precisar mudar a conjugação do verbo “ficar” para indicar de novo que está na primeira pessoa do singular.

Bom que no japonês conjugar verbos é bem simples, e existem poucas conjugações diferentes (e não tem casos!).

Uma coisa da qual também não gosto no português é o gênero gramatical. Me diga, por que “calça” é uma palavra “feminina” e “vestido” é uma palavra “masculina”? Gênero gramatical só faz sentido se usado junto com um nome próprio de uma pessoa, na minha opinião (um exemplo seria “A Maria comeu um pedaço de bolo”, onde o artigo feminino “a” indica que “Maria” é mulher, embora o nome Maria já indique isso, por ser um nome amplamente considerado feminino). Eu até gostaria de dizer a piada de que “O gênero gramatical foi inventado pelas escolas de português para gastar mais tempo dos alunos e ganhar mais com mensalidades”, mas lembrei que português não é um idioma tão popular assim como segunda língua.

Para finalizar a discussão sobre o português, vou falar um pouco sobre um problema que os leitores de “novels” sentem: Já sabia que as novels são chamadas de “romances” no português? Bem, romances são um tipo de obras de ficção, mas ao mesmo tipo são um “tema” de obras de ficção. Para explicar melhor, vou diferenciar “tipo” de “tema”: Exemplos de “tipos” literários são “contos”, “crônicas”, “romances”, “editoriais”, “reportagens”, “diários”, dentre outros. Agora, exemplos de “temas” literários são “romance”, “ação”, “aventura”, “fantasia”, etc. Percebeu uma semelhança? A palavra “romance” pode significar “história de amor” ou “gênero literário definido pela ficção em prosa longa, publicada em formato de livros” (definição minha). Sim, existem duas definições completamente diferentes para a palavra “romance” em contextos bem similares um ao outro (ambos são contextos literários). Curiosamente, o que eu chamei de “tipos literários” e o que eu chamei de “temas literários” são ambos chamados de “gêneros literários” em português. Sim, “gêneros literários” também tem duas definições diferentes em contextos parecidos.

Agora, vamos para o japonês:

Embora o idioma japonês tenha um sistema de escrita horrível (minha opinião), eu reconheço algumas coisas positivas sobre esse sistema de escrita:

  • Os caracteres japoneses são muito bonitos.
  • Cada Kanji possui um (ou mais de um) significado, então o nome de uma pessoa pode ter um significado bem aparente pela forma em que é escrito. É possível juntar o Kanji para “Sol” e o caracter para “Origem” para chegar no nome “Nippon/Nihon” (duas pronúncias diferentes), que significa “terra do sol nascente (literalmente, origem do Sol)”, e é o nome do Japão em japonês.
  • Os Kanji são excelentes para a arte da caligrafia (já viu aqueles quadros com palavras japonesas escritas em pincel?).
  • Os Kanji removem a ambiguidade de palavras homófonas (duas palavras com a mesma pronúncia, porém significados diferentes).

Falando de mais coisas legais sobre o japonês, temos que o japonês não possui “casos”, nem “gênero gramatical”. Então o japonês é muito fácil de aprender (se você ignorar a escrita). Sério, para chegar no nível JLPT N5 (o mais básico do Teste de Proficiência em Língua Japonesa, JLPT) eu demorei menos de 6 meses. Para o JLPT N3 (o nível intermediário), eu demorei 1 ano e meio. Infelizmente eu parei de estudar por volta de 2020 (logo após sair o resultado do meu JLPT N3), então eu perdi muito conhecimento do idioma, mas agora já estou voltando a aprender para chegar no JLPT N1 (nível mais avançado).

Fora isso, o japonês têm uma fonética bem limitada (menos de 60 sílabas diferentes no idioma inteiro), então ele é fácil de aprender. O problema disso é que as pessoas monolíngues que falam apenas japonês acabam tendo dificuldade para aprender outros idiomas.